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Simulado de Literatura

Simulado com 20 exercícios de Literatura com gabarito para a Fuvest.

01. (Fuvest 2021) — Posso furar os olhos do povo?

Esta frase besta foi repetida muitas vezes e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje não vivem como antigamente, escondidas, evitando os homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo.

E eu de fato não tinha visto nada. As aparências mentem. A terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados injustamente neste mundo ruim!

O retirante que fora encontrado violando a filha de quatro anos — estava aí um exemplo. As vizinhas tinham visto o homem afastando as pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação.

Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que ali estava a choramingar.

Graciliano Ramos, Angústia.

Em termos críticos, esse fragmento permite observar que, no plano maior do romance Angústia, o ponto de vista

  1. se acomoda nos limites da vulgaridade.
  2. tenta imitar a retórica dos dominantes.
  3. reproduz a lógica do determinismo social.
  4. atinge a neutralidade do espírito maduro.
  5. revira os lados contrários da opinião.

02. (Fuvest 2020) TEXTO PARA A QUESTÃO

Uma planta é perturbada na sua sesta* pelo exército que a pisa.

Mas mais frágil fica a bota.

Gonçalo M. Tavares, 1: poemas.

*sesta: repouso após o almoço.

Considerando que se trata de um texto literário, uma interpretação que seja capaz de captar a sua complexidade abordará o poema como

  1. uma defesa da natureza.
  2. Um ataque às forças armadas.
  3. uma defesa dos direitos humanos.
  4. uma defesa da resistência civil.
  5. um ataque à passividade.

03. (Fuvest 2019) Atente para as seguintes afirmações relativas ao desfecho do romance A Relíquia, de Eça de Queirós:

I. O autor revela, por meio de Teodorico, sua descrença num Jesus divinizado, imagem que é substituída pela ideia de Consciência.

II. Ao ser sincero com Crispim, Teodorico conquista a vida de burguês que sempre almejou.

III. Teodorico dá ouvidos à mensagem de Cristo, arrepende‐se de sua hipocrisia beata e abraça a fé católica.

Está correto o que se afirma apenas em

  1. I.
  2. II.
  3. I e II.
  4. II e III.
  5. I e III.

04. (Fuvest 2018) Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de dona Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente, que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: - Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.

Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

Não sei por que até hoje todo o mundo diz que tinha pena dos escravos. Eu não penso assim. Acho que se fosse obrigada a trabalhar o dia inteiro não seria infeliz. Ser obrigada a ficar à toa é que seria castigo para mim. Mamãe às vezes diz que ela até deseja que eu fique preguiçosa; a minha esperteza é que a amofina. Eu então respondo: “Se eu fosse preguiçosa não sei o que seria da senhora, meu pai e meus irmãos, sem uma empregada em casa”

Helena Morley, Minha vida de menina.

São características dos narradores Brás Cubas e Helena, respectivamente,

  1. malícia e ingenuidade.
  2. solidariedade e egoísmo.
  3. apatia e determinação
  4. rebeldia e conformismo.
  5. otimismo e pessimismo.

05. (Fuvest 2017) Mas o pecado maior contra a Civilização e o Progresso, contra o Bom Senso e o Bom Gosto e até os Bons Costumes, que estaria sendo cometido pelo grupo de regionalistas a quem se deve a ideia ou a organização deste Congresso, estaria em procurar reanimar não só a arte arcaica dos quitutes finos e caros em que se esmeraram, nas velhas casas patriarcais, algumas senhoras das mais ilustres famílias da região, e que está sendo esquecida pelos doces dos confeiteiros franceses e italianos, como a arte - popular como a do barro, a do cesto, a da palha de Ouricuri, a de piaçava, a dos cachimbos e dos santos de pau, a das esteiras, a dos ex-votos, a das redes, a das rendas e bicos, a dos brinquedos de meninos feitos de sabugo de milho, de canudo de mamão, de lata de doce de goiaba, de quenga de coco, de cabaça - que é, no Nordeste, o preparado do doce, do bolo, do quitute de tabuleiro, feito por mãos negras e pardas com uma perícia que iguala, e às vezes excede, a das sinhás brancas.

Gilberto Freyre. Manifesto regionalista (7ª ed.).

Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1996.

De acordo com o texto de Gilberto Freyre, o Manifesto regionalista, publicado em 1926,

  1. opunha-se ao cosmopolitismo dos modernistas, especialmente por refutar a alteração nos hábitos alimentares nordestinos.
  2. traduzia um projeto político centralizador e antidemocrático associado ao retorno de instituições monárquicas.
  3. exaltava os valores utilitaristas do moderno capitalismo industrial, pois reconhecia a importância da tradição agrária brasileira.
  4. preconizava a defesa do mandonismo político e da integração de brancos e negros sob a forma da democracia racial.
  5. promovia o desenvolvimento de uma cultura brasileira autêntica pelo retorno a seu passado e a suas tradições e riquezas locais.

06. (Fuvest 2021) Alferes, Ouro Preto em sombras

Espera pelo batizado,

Ainda que tarde sobre a morte do sonhador

Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.

Raios de sol brilharão nos sinos:

Dez vias dar.

Ai Marília, as lirase o amor

Não posso mais sufocar

E a minha voz irá

Pra muito além do desterro e do sal,

Maior que a voz do rei.

Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção “Alferes”, de 1973.

A imagem de Tiradentes — a quem Cecília Meireles qualificou “o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo”, em palestra feita em Ouro Preto — torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional.

Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso

  1. da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
  2. da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
  3. de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar.
  4. dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
  5. da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.

07. (Fuvest 2020) TEXTO PARA A QUESTÃO

amora

a palavra amora

seria talvez menos doce

e um pouco menos vermelha

se não trouxesse em seu corpo

(como um velado esplendor)

a memória da palavra amor

a palavra amargo

seria talvez mais doce

e um pouco menos acerba

se não trouxesse em seu corpo

(como uma sombra a espreitar)

a memória da palavra amar

Marco Catalão, Sob a face neutra.

Tal como se lê no poema,

  1. a palavra “amora” é substantivo, e “amargo”, adjetivo.
  2. o verbo “amar” ameniza o amargor da palavra “amargo”.
  3. o substantivo “corpo” apresenta sentido denotativo.
  4. o substantivo “amor” intensifica o dulçor da palavra “amora”.
  5. o verbo “amar” e o substantivo “amor” são intercambiáveis.

08. (Fuvest 2019) TEXTO PARA A QUESTÃO

O povo que chupa o caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?

José de Alencar. Bênção Paterna. Prefácio a Sonhos d’ouro.

A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome, outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda e as tintas de que matiza o algodão.

José de Alencar. Iracema.

Glossário:

“ará”: periquito; “uru”: cesto; “crautá”: espécie de bromélia; “juçara”: tipo de palmeira espinhosa.

Com base nos trechos acima, é adequado afirmar:

  1. Para Alencar, a literatura brasileira deveria ser capaz de representar os valores nacionais com o mesmo espírito do europeu que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera.
  2. Ao discutir, no primeiro trecho, a importação de ideias e costumes, Alencar propõe uma literatura baseada no abrasileiramento da língua portuguesa, como se verifica no segundo trecho.
  3. O contraste entre os verbos “chupar” e “sorver”, empregados no primeiro trecho, revela o rebaixamento de linguagem buscado pelo escritor em Iracema.
  4. Em Iracema, a construção de uma literatura exótica, tal como se verifica no segundo trecho, pautou‐se pela recusa de nossos elementos naturais.
  5. Ambos os trechos são representativos da tendência escapista de nosso romantismo, na medida em que valorizam os elementos naturais em detrimento da realidade rotineira.

09. (Fuvest 2018) (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás. (...)

Carta de Graciliano Ramos a sua esposa

(...) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.

(...)

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

Graciliano Ramos, Vidas secas.

As declarações de Graciliano Ramos na Carta e o excerto do romance permitem afirmar que a personagem Baleia, em Vidas secas, representa

  1. o conformismo dos sertanejos.
  2. os anseios comunitários de justiça social.
  3. os desejos incompatíveis com os de Fabiano.
  4. a crença em uma vida sobrenatural
  5. o desdém por um mundo melhor.

10. (Fuvest 2017) Nasceu o dia e expirou.

Já brilha na cabana de Araquém o fogo, companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas, filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.

Martim se embala docemente; e como a alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos ardentes amores

Iracema recostase langue ao punho da rede; seus olhos negros e fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro.

José de Alencar, Iracema.

No texto, corresponde a uma das convenções com que o Indianismo construía suas representações do indígena

  1. o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis com o contexto.
  2. a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido de vontade própria.
  3. a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
  4. o uso de vocabulário primitivo e singelo, de extração oral-popular.
  5. a supressão de interdições morais relativas às práticas eróticas.

11. (Fuvest 2021) I

— Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.

(...)

Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? Es um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.

Pepetela, Mayombe. Adaptado.

II

— Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.

Pepetela, Mayombe.

Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance.

Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,

  1. incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
  2. decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
  3. suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
  4. forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro.
  5. ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.

12. (Fuvest 2020) Agora, o Manuel Fulô, este,sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.

Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.

*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço

O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que

  1. há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.
  2. estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.
  3. A expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.
  4. é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.
  5. se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.

13. (Fuvest 2019) E grita a piranha cor de palha, irritadíssima:

– Tenho dentes de navalha, e com um pulo de ida‐e‐volta resolvo a questão!...

– Exagero... – diz a arraia – eu durmo na areia, de ferrão a prumo, e sempre há um descuidoso que vem se espetar.

– Pois, amigas, – murmura o gimnoto*, mole, carregando a bateria – nem quero pensar no assunto: se eu soltar três pensamentos elétricos, bate‐poço, poço em volta, até vocês duas boiarão mortas...

*peixe elétrico.

Esse texto, extraído de Sagarana, de Guimarães Rosa,

  1. antecipa o destino funesto do ex‐militar Cassiano Gomes e do marido traído Turíbio Todo, em “Duelo”, ao qual serve como epígrafe.
  2. assemelha‐se ao caráter existencial da disputa entre Brilhante, Dansador e Rodapião na novela “Conversa de Bois”.
  3. reúne as três figurações do protagonista da novela “A hora e vez de Augusto Matraga”, assim denominados: Augusto Estêves, Nhô Augusto e Augusto Matraga.
  4. representa o misticismo e a atmosfera de feitiçaria que envolve o preto velho João Mangalô e sua desavença com o narrador‐personagem José, em “São Marcos”.
  5. constitui uma das cantigas de “O burrinho Pedrês”, em que a sagacidade da boiada se sobressai à ignorância do burrinho.

14. (Fuvest 2018) (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e esperamos preás.

(...)

Carta de Graciliano Ramos a sua esposa

(...) Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde sinha Vitória guardava o cachimbo.

(...) Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.

Graciliano Ramos, Vidas secas.

A comparação entre os fragmentos, respectivamente, da Carta e de Vidas secas, permite afirmar que

  1. “será que há mesmo” e “acordaria feliz” sugerem dúvida.
  2. “procurei adivinhar” e “precisava vigiar” significam necessidade.
  3. “no fundo todos somos” e “andar pelas ribanceiras” indicam lugar.
  4. “ padre Zé Leite pretende” e “Baleia queria dormir” indicam intencionalidade.
  5. “todos nós desejamos” e “dormiam na esteira” indicam possibilidade.

15. (Fuvest 2017) Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam. Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era aomesmo tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura. Tudo na verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às vezes se arreliava. Não havia paciência que suportasse tanta coisa.

–Um dia um homem faz besteira e se desgraça.

Graciliano Ramos, Vidas secas.

Tendo em vista as causas que a provocam, a revolta que vem à consciência de Fabiano, apresentada no texto como ainda contida e genérica, encontrará foco e uma expressão coletiva militante e organizada, em época posterior à publicação de Vidas secas, no movimento

  1. carismático de Juazeiro do Norte, orientado pelo Padre Cícero Romão Batista.
  2. das Ligas Camponesas, sob a liderança de Francisco Julião.
  3. do Cangaço, quando chefiado por Virgulino Ferreira da Silva (Lampião).
  4. messiânico de Canudos, conduzido por Antônio Conselheiro.
  5. da Coluna Prestes, encabeçado por Luís Carlos Prestes.

16. (Fuvest 2021) Rubião fitava a enseada, — eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

— Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...

Machado de Assis, Quincas Borba.

O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:

  1. a contemplação das paisagens naturais, como se lê em “ele admirava aquele pedaço de água quieta”.
  2. a presença de um narrador-personagem, como se lê em “em verdade vos digo que pensava em outra coisa”.
  3. a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em “Cotejava o passado com o presente”.
  4. o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em “Deus escreve direito por linhas tortas”.
  5. a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em “de modo que o que parecia uma desgraça...”.

17. (Fuvest 2020) TEXTOS PARA A QUESTÃO

Os textos literários são obras de discurso, a que falta a imediata referencialidade da linguagem corrente; poéticos, abolem, “destroem” o mundo circundante, cotidiano, graças à função irrealizante da imaginação que os constrói. E prendem‐nos na teia de sua linguagem, a que devemo poder de apelo estético que nos enleia; seduz‐nos o mundo outro, irreal, neles configurado (...). No entanto, da adesão a esse “mundo de papel”, quando retornamos ao real, nossa experiência, ampliada e renovada pela experiência da obra, à luz do que nos revelou, possibilita redescobri‐lo, sentindo‐o e pensando‐o de maneira diferente e nova. A ilusão, a mentira, o fingimento da ficção, aclara o real ao desligar‐se dele, transfigurando‐o; e aclara‐o já pelo insight que em nós provocou.

Benedito Nunes, “Ética e leitura”, de Crivo de Papel.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando‐se, traindo‐se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

Graciliano Ramos, Angústia.

Romance desagradável, abafado, ambiente sujo, povoado de ratos, cheio de podridões, de lixo. Nenhuma concessão ao gosto do público. Solilóquio doido, enervante.

Graciliano Ramos, Memórias do Cárcere, em nota a respeito de seu livro Angústia.

O argumento de Benedito Nunes, em torno da natureza artística da literatura, leva a considerar que a obra só assume função transformadora se

  1. estabelece um contraponto entre a fantasia e o mundo.
  2. utiliza a linguagem para informar sobre o mundo.
  3. instiga no leitor uma atitude reflexiva diante do mundo.
  4. oferece ao leitor uma compensação anestesiante do mundo.
  5. conduz o leitor a ignorar o mundo real.

18. (Fuvest 2019) I.

Surge então a pergunta: se a fantasia funciona como realidade; se não conseguimos agir senão mutilando o nosso eu; se o que há de mais profundo em nós é no fim de contas a opinião dos outros; se estamos condenados a não atingir o que nos parece realmente valioso –, qual a diferença entre o bem e o mal, o justo e o injusto, o certo e o errado? O autor passou a vida a ilustrar esta pergunta, que é modulada de maneira exemplar no primeiro e mais conhecido dos seus grandes romances de maturidade.

II.

É preciso todavia lembrar que essa ligação com o problema geográfico e social só adquire significado pleno, isto é, só atua sobre o leitor, graças à elevada qualidade artística do livro. O seu autor soube transpor o ritmo mesológico para a própria estrutura da narrativa, mobilizando recursos que afazem parecer movida pela mesma fatalidade sem saída. (...) Da consciência mortiça da personagem podem emergir os transes periódicos em que se estorce o homem esmagado pela paisagem e pelos outros homens.

Nos fragmentos I e II, aqui adaptados, o crítico Antonio Candido avalia duas obras literárias, que são, respectivamente,

  1. A Relíquia e Sagarana.
  2. O Cortiço e Iracema.
  3. Sagarana e O Cortiço.
  4. Mayombe e Minha Vida de Menina.
  5. Memórias Póstumas de Brás Cubas e Vidas Secas.

19. (Fuvest 2016) — Pois, Grilo, agora realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme.

O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa:

— Sua Excelência brotou!

Profundo sempre o digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais* em redor o bendiziam.

Eça de Queirós, A cidade e as serras.

*casal: pequena propriedade rústica; pequeno povoado.

O teor das imagens empregadas no texto para caracterizar a mudança pela qual passara Jacinto indica que a causa principal dessa transformação foi

  1. o retorno a sua terra natal.
  2. a conversão religiosa.
  3. o trabalho manual na lavoura.
  4. a mudança da cidade para o campo.
  5. o banimento das inovações tecnológicas.

20. (Fuvest 2015) Considerando-se o intervalo entre o contexto em que transcorre o enredo da obra Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, e a época de sua publicação, é correto afirmar que a esse período corresponde o processo de

  1. reforma e crise do Império Português na América.
  2. triunfo de uma consciência nativista e nacionalista na colônia.
  3. Independência do Brasil e formação de seu Estado nacional.
  4. consolidação do Estado nacional e de crise do regime monárquico brasileiro.
  5. Proclamação da República e instauração da Primeira República.

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