Unesp 2021 - 2ª Fase: História

2ª Fase - Prova de Conhecimentos Específicos

1. (Unesp 2021) Até o século XIV, houve uma doença muito disseminada e muito temida: a lepra. Nas cidades, foram construídos hospitais especializados para os leprosos. […] Como se pensava que a lepra era contagiosa, os leprosos que andavam pelas ruas deviam sacudir uma espécie de sineta, a “matraca”

(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, 2007.)

A lepra (ou hanseníase) era temida na Idade Média porque

  1. o conhecimento científico era precário, desconhecia-se que a doença era facilmente curável e que só era transmitida pelo contato sexual entre as pessoas.
  2. a única cura conhecida da doença dependia de poções e unguentos mágicos, mas a Igreja católica impedia a divulgação desses rituais de feitiçaria.
  3. representava, além do risco do sofrimento e da morte, a existência de preconceitos sociais e a crença de que a doença era uma manifestação da vontade e do castigo divinos.
  4. foi mais devastadora que a peste negra, que era disseminada pelas pulgas dos ratos e que atingia principalmente os moradores das áreas rurais.
  5. era frequentemente confundida com a disenteria, originária da América, que provocou milhões de mortes nas áreas centrais e orientais da Europa, entre a Idade Média e a Idade Moderna.

2. (Unesp 2021)

Leia os textos para responder às questões 22 e 23.

Texto 1

Nenhum documento permite afirmar que Pedro Álvares Cabral partira de Lisboa com o propósito de descobrir novas terras. A intencionalidade da descoberta não encontra fundamento em nenhuma das testemunhas, seja Pero Vaz de Caminha, Mestre João ou o piloto anônimo. A armada partiu com destino à Índia, e foi só isso.

(Joaquim Romero de Magalhães. “Quem descobriu o Brasil?”. In: Luciano Figueiredo. História do Brasil para ocupados, 2013.)

Texto 2

Quando Pedro Álvares Cabral e seus homens chegaram à costa da atual Bahia em 1500, não havia, obviamente, nem Brasil nem brasileiros. Pode ser, como querem muitos historiadores, que outros tenham andado por ali antes, mas disso não ficou registro consistente, e foram Pero Vaz de Caminha e Mestre João os autores das primeiras narrativas sobre a nova terra e seu céu.

(Laura de Mello e Souza. “O nome Brasil”. In: Luciano Figueiredo. História do Brasil para ocupados, 2013.)

Os dois textos referem-se à expedição de Cabral, que aportou no litoral do futuro território do Brasil em 1500. A documentação citada nos textos é, de acordo com os autores

  1. capaz de revelar a capacidade técnica que permitiu a navegação oceânica e a superação de barreiras físicas e mentais no processo de conquista e colonização da América e do litoral africano.
  2. insuficiente para a compreensão dos objetivos exatos da empreitada e impede afirmações categóricas sobre a intencionalidade e o pioneirismo na conquista das novas terras.
  3. insuficiente para o entendimento dos interesses políticos e comerciais da expansão marítima portuguesa, mas explicita o desinteresse das testemunhas e dos narradores em revelar a verdade histórica acerca da empreitada.
  4. insuficiente para o conhecimento do que de fato ocorreu durante a viagem, mas confirma o pioneirismo dos ingleses na navegação atlântica e a correlação direta entre os propósitos e os resultados da empreitada.
  5. capaz de expor a dinâmica completa da conquista portuguesa do Oceano Atlântico e da abertura e exploração de rotas comerciais regulares da Europa para a África, a América e as Índias.

3. (Unesp 2021)

Leia os textos para responder às questões 22 e 23.

Texto 1

Nenhum documento permite afirmar que Pedro Álvares Cabral partira de Lisboa com o propósito de descobrir novas terras. A intencionalidade da descoberta não encontra fundamento em nenhuma das testemunhas, seja Pero Vaz de Caminha, Mestre João ou o piloto anônimo. A armada partiu com destino à Índia, e foi só isso.

(Joaquim Romero de Magalhães. “Quem descobriu o Brasil?”. In: Luciano Figueiredo. História do Brasil para ocupados, 2013.)

Texto 2

Quando Pedro Álvares Cabral e seus homens chegaram à costa da atual Bahia em 1500, não havia, obviamente, nem Brasil nem brasileiros. Pode ser, como querem muitos historiadores, que outros tenham andado por ali antes, mas disso não ficou registro consistente, e foram Pero Vaz de Caminha e Mestre João os autores das primeiras narrativas sobre a nova terra e seu céu.

(Laura de Mello e Souza. “O nome Brasil”. In: Luciano Figueiredo. História do Brasil para ocupados, 2013.)

A afirmação do texto 2 de que “Quando Pedro Álvares Cabral e seus homens chegaram à costa da atual Bahia em 1500, não havia, obviamente, nem Brasil nem brasileiros” é correta, pois

  1. os navegadores tratavam os nativos como servos ou escravos e não reconheciam seu direito à cidadania brasileira.
  2. os navegadores portugueses pensavam ter alcançado as Índias e não admitiam ter chegado a terras até então desconhecidas.
  3. a nacionalidade brasileira se estabeleceu apenas após a miscigenação entre nativos, africanos escravizados e europeus.
  4. os navegadores pretendiam impor a nacionalidade portuguesa aos nativos e não permitiam, por parte deles, reivindicações identitárias.
  5. a ideia de nacionalidade se concretizou apenas após a conquista da autonomia política e a superação da condição colonial.

4. (Unesp 2021) O quilombo significou uma alternativa concreta à ordem escravista — e, por isso, tornou-se um problema real e bastante amedrontador para a sociedade colonial e para as autoridades, que precisavam combatê-lo de modo sistemático. Mas, ao mesmo tempo, o quilombo era parte da sociedade que o reprimia, em função dos diversos vínculos que tinha com os diferentes setores desta. Tais vínculos, de natureza muito variada, incluíam a criação de toda sorte de relações comerciais com as populações vizinhas, a formação de redes mais ou menos complexas para obtenção de informações e, como não poderia deixar de ser, o cultivo de um sem- -número de laços afetivos e amorosos que se entrecruzavam nas periferias urbanas e nas fazendas.

(Lilia M. Schwarcz e Heloisa M. Starling. Brasil: uma biografia, 2018.)

Os quilombos existentes no Brasil colonial podem ser caracterizados como espaços

  1. de permanência provisória, a que os fugitivos recorriam até que conseguissem alforria ou pudessem escapar para países vizinhos, onde a escravidão já havia sido abolida.
  2. tolerados pelos organismos policiais e repressivos da colônia, pois continham áreas importantes de produção de alimentos, que contribuíam para alimentação dos escravizados.
  3. articulados à ordem estabelecida da sociedade colonial, pois resultavam da lógica do escravismo e, ao mesmo tempo, mantinham conexões regulares com comunidades e cidades próximas.
  4. de refúgio, que conseguiam sustentar-se e garantir a sobrevivência daqueles que neles se abrigavam, a partir da autossuficiência econômica e do completo isolamento.
  5. de extrema violência, cujos moradores sofriam tanto com os ataques sistemáticos de bandeirantes quanto com a tirania dos chefes, que reproduziam internamente a lógica escravista da sociedade.

5. (Unesp 2021)

O princípio é: na periferia, uma construção em anel; no centro, uma torre; esta possui grandes janelas que se abrem para a parte interior do anel. A construção periférica é dividida em celas, cada uma ocupando toda a largura da construção. Estas celas têm duas janelas: uma abrindo-se para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, dando para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de um lado a outro. Basta então colocar um vigia na torre central e em cada cela trancafiar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um estudante. Devido ao efeito de contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se na luminosidade, as pequenas silhuetas prisioneiras nas celas da periferia. Em suma, inverte-se o princípio da masmorra; a luz e o olhar de um vigia captam melhor que o escuro que, no fundo, protegia. […]

As mudanças econômicas do século XVIII tornaram necessário fazer circular os efeitos do poder por canais cada vez mais sutis, chegando até os próprios indivíduos, seus corpos, seus gestos, cada um de seus desempenhos cotidianos. Que o poder, mesmo tendo uma multiplicidade de homens a gerir, seja tão eficaz quanto se ele se exercesse sobre um só. […] Bentham […] coloca o problema da visibilidade, mas pensando em uma visibilidade organizada inteiramente em torno de um olhar dominador e vigilante. Ele faz funcionar o projeto de uma visibilidade universal, que agiria em proveito de um poder rigoroso e meticuloso.

(Michel Foucault. Microfísica do poder, 1979.)

O projeto do panóptico de Bentham associou-se, na origem,

  1. à lógica do individualismo e da racionalidade difundidos no Iluminismo, e hoje manifesta-se indiretamente no uso sistemático de câmeras de segurança para a vigilância do cotidiano.
  2. à defesa do igualitarismo social proposta pelos formuladores das doutrinas socialistas, e hoje manifesta-se nos projetos arquitetônicos de prisões e quartéis desenvolvidos nos países comunistas.
  3. ao predomínio da visão sobre os outros sentidos nas sociedades orientais tradicionais, e hoje expressa-se na presença de aparelhos de televisão na maioria das residências e dos estabelecimentos comerciais.
  4. ao esforço de centralização do poder no âmbito do absolutismo monárquico e da formação dos Estados modernos, e hoje expressa-se na ação repressiva e controladora dos regimes totalitários.
  5. à luta pela democratização nas sociedades ocidentais contemporâneas, e hoje manifesta-se no amplo direito de acesso à informação e à expressão proporcionado pela internet e pelas redes sociais.

6. (Unesp 2021) As revoluções inglesas do século XVII são consideradas, por alguns historiadores, as primeiras revoluções burguesas, pois

  1. suprimiram a interferência política da nobreza e separaram Estado e Igreja.
  2. ampliaram o espaço de atuação política e comercial dos comerciantes britânicos.
  3. eliminaram o sistema monárquico e implantaram uma estrutura republicana.
  4. proporcionaram o surgimento de legislação trabalhista para a cidade e o campo.
  5. impediram a expansão do o Estado democrático e da participação política direta.

7. (Unesp 2021) A glorificação da guerra e do heroísmo já era tema constante na literatura nacionalista […]; os escritores nazistas só vieram repetir os clichês já surrados de exaltação dos valores militares, do sacrifício, da força da guerra como fator de soerguimento do orgulho nacional. […]

Para o nazismo, a guerra era o cume de uma decisão de cuja verdade não se poderia escapar. Sabiam que tudo estava sendo jogado nela.

(Alcir Lenharo. Nazismo: o triunfo da vontade, 1986.)

No contexto histórico descrito

  1. os nazistas acreditavam que “a guerra era o cume de uma decisão de cuja verdade não se poderia escapar”, pois defendiam, nos seus textos teóricos, que os humanos são, no estado de natureza, bons selvagens.
  2. os nazistas reproduziram a “exaltação dos valores militares” da literatura nacionalista, pois identificavam-se aos valores e princípios socialistas dos principais autores alemães do século XIX.
  3. o “soerguimento do orgulho nacional” associa-se à necessidade de recuperar os territórios perdidos pela Alemanha na Guerra Franco-Prussiana e ao sucesso da ocupação militar nazista da Polônia e da União Soviética.
  4. a “glorificação da guerra” relaciona-se ao enaltecimento das campanhas militares dos alemães na História e à sustentação, pela ideologia nazista, da centralidade do conflito como hierarquizador de pessoas e nações.
  5. a “glorificação do heroísmo” relaciona-se à mitificação de ações de guerreiros individuais, que atuam no campo de batalha mesmo em condição de inferioridade numérica e de armamentos.

8. (Unesp 2021) Observe a charge de Ziraldo, originalmente publicada em 1968

O diálogo entre o elefante e as cobras, associado à decretação do Ato Institucional número 5, sugere
  1. a alienação de parte expressiva da sociedade ante o cenário político e a difusão de notícias falsas.
  2. a solidez das instituições políticas republicanas e a disseminação do medo por traidores dos interesses nacionais.
  3. o contraste entre o esforço militar de corrigir os rumos do país e a desconfiança da sociedade civil.
  4. o poder dos grupos sociais e políticos fortes e consolidados e a incerteza entre os setores populares.
  5. o distanciamento entre a sociedade e o regime político e a dissolução das garantias e dos direitos democráticos.