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Escravidão Africana

Escravidão Africana

A substituição da escravidão indígena pela africana foi iniciada no último quarto do século XVI. Gravura de Zacharias Wagener, c. 1630. Domínio público

A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu, progressivamente, a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa deles.

Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil índios entre os anos de 1562 e 1563. As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica. Outro fator bastante importante, se não o mais importante, na substituição da mão de obra indígena pela africana era a necessidade de uma melhor organização da produção açucareira, que assumia um papel cada vez mais importante na economia colonial.

Para conseguir dar conta dessa expansão e demanda externa, tornou-se necessária uma mão de obra cada vez mais especializada, como a dos africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses na Ilha da Madeira, litoral da África.

Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos indígenas, restringindo as situações em que isso poderia ocorrer, como em "guerras justas", isto é, conflitos considerados necessários à defesa dos colonos, que, assim, poderiam aprisionar e escravizar os indígenas, ou ainda a título de punição pela prática da antropofagia. Podia-se escravizá-los, também, como forma de "resgate", isto é, comprando os indígenas aprisionados por tribos inimigas, que estavam prontas a devorá-los.

Ao longo desse processo, os portugueses já tinham percebido a maior habilidade dos africanos, tanto no trato com a agricultura em geral quanto em atividades especializadas, como o fabrico do açúcar e trabalhos com ferro e gado. Além disso, havia o fato de que, enquanto os portugueses utilizaram a mão de obra indígena, puderam acumular os recursos necessários para comprar os africanos. Essa aquisição era considerada investimento bastante lucrativo, pois os escravos negros tinham um excelente rendimento no trabalho.>

O tráfico negreiro

Os compartimentos de um navio negreiro. Gravura publicada em 1830 no livro Notices of Brazil in 1828 and 1829, de R. Washl. Domínio público, Arquivo Nacional – Ministério da Justiça

Na colônia, ainda no século XVI, os portugueses já haviam dado início ao tráfico negreiro, atividade comercial bastante lucrativa. Os traficantes de escravos negros, interessados em ampliar esse rendoso negócio, firmaram alianças com os chefes tribais africanos. Estabeleceram com eles um comércio baseado no escambo, no qual trocavam tecidos de seda, joias, metais preciosos, armas, tabaco, algodão e cachaça por africanos capturados em guerras com tribos inimigas.

Segundo o historiador Arno Wehling, "a ampliação do tráfico e sua organização em sólidas bases empresariais permitiram criar um mercado negreiro transatlântico que deu estabilidade ao fluxo de mão de obra, aumentando a oferta, ao contrário da oscilação no fornecimento de indígenas, ocasionada pela dizimação das tribos mais próximas e pela fuga de outras para o interior da colônia".

Por outro lado, a Igreja, que tinha se manifestado contra a escravidão dos indígenas, não se opôs à escravização dos africanos. Dessa maneira, a utilização da mão de obra escrava africana tornou-se a melhor solução para a atividade açucareira.

Os negros trazidos para o Brasil pertenciam, principalmente, a dois grandes grupos étnicos: os sudaneses, originários da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, e os bantos, capturados no Congo, Angola e Moçambique. Estes foram desembarcados, em sua maioria, em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os sudaneses ficaram na Bahia. Calcula-se que, entre 1550 e 1855, entraram nos portos brasileiros cerca de 4 milhões de africanos, em sua maioria jovens do sexo masculino.

Gravura do interior de um navio negreiro, publicada em 1860 no livro Revelations of a Slave Smuggler, de Richard Drake. Domínio público

Os navios negreiros que transportavam africanos até o Brasil eram chamados de tumbeiros, porque grande parte dos negros, amontoados nos porões, morria durante a viagem. O banzo (melancolia), causado pela saudade da sua terra e de sua gente, era outra causa que os levava à morte. Os sobreviventes eram desembarcados e vendidos nos principais portos da colônia, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro.

Os escravos africanos eram, de forma geral, bastante explorados e maltratados e, em média, não aguentavam trabalhar mais do que dez anos. Como reação a essa situação, durante todo o período colonial foram constantes os atos de resistência, desde fugas, tentativas de assassinato do senhor e do feitor, até suicídios.

Essas reações contra a violência praticada pelos feitores, com ou sem ordem dos senhores, eram punidas com torturas diversas. Amarrados no tronco, permaneciam dias sem direito a comida e água, levando inumeráveis chicotadas. Eram presos nos ferros pelos pés e pelas mãos. Os ferimentos eram salgados, provocando dores atrozes. Quando tentavam fugir, eram considerados indignos da graça de Deus, pois, segundo o padre Antônio Vieira, ser "rebelde e cativo" é estar "em pecado contínuo e atual"...

Escravidão: negociação e conflito

Os escravos ladinos, que sabiam falar português e faziam serviços domésticos na casa-grande, eram os que recebiam os melhores tratos de seus senhores. Gravura de Jean-Baptiste Debret, 1835. Domínio público, Acervo ABL

Para o historiador Eduardo Silva, "a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada apenas na força. O combate à autonomia e à indisciplina escrava, no trabalho e fora dele, se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote com a recompensa".

Os escravos que trabalhavam na casa-grande recebiam um tratamento melhor e, em alguns casos, eram considerados pessoas da família. Esses escravos, chamados de "ladinos" (negros já aculturados), entendiam e falavam o português e possuíam uma habilidade especial na realização das tarefas domésticas. Os escravos chamados "boçais", recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da lavoura.

Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os mestres de açúcar, os ferreiros e outros distinguidos pelo senhor de engenho. Chamava-se de crioulo o escravo nascido no Brasil. Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e de supervisão, deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos mais pesados.

A convivência mais próxima entre senhores e escravos na casa-grande abriu espaço para as negociações. Essa abertura era sempre maior para os ladinos, conhecedores da língua e das manhas para "passar a vida", e menor para os africanos recém-chegados, os boçais. Na maioria das vezes, essas negociações não visavam à extinção pura e simples da condição de escravo, e sim obter melhores condições de vida: manutenção das famílias, liberdade de culto, permissão para o cultivo em pedaço de terra do senhor, com a venda da produção, e condições de alimentação mais satisfatórias.

A Guerra dos Palmares. Os quilombos eram não só comunidades de resistência ao trabalho compulsório, mas também de afirmação da cultura africana. Óleo sobre tela de Manoel Victor Filho, século XX. Domínio público, Arquivo Histórico Ultramarino

Uma das formas de resistência negra era a organização dos quilombos – comunidades livres constituídas pelos negros que conseguiam fugir com sucesso. O mais famoso deles, o Quilombo dos Palmares, formou-se na Serra da Barriga, atual Alagoas, no início do século XVII. Resistindo por mais de 60 anos, nele viveram cerca de 200 mil negros. Palmares sobreviveu a vários ataques organizados pela Coroa portuguesa, pelos fazendeiros e até pelos holandeses.

Para o senhor de engenho, a compra de escravos significava um gasto de dinheiro considerável e, portanto, não desejava perdê-los, qualquer que fosse o motivo: fuga ou morte, inutilização por algum acidente ou por castigos aplicados pelos feitores. A perda afetava diretamente as atividades do engenho.

Outro problema a evitar era que as revoltas se tornassem uma ameaça ao senhor e à sua família, ou à realização das tarefas cotidianas. Dessa forma, se muitas vezes as relações entre senhores e escravos eram marcadas pelos conflitos causados pelas tentativas dos senhores de preservar suas conquistas, em muitos casos, a garantia dessas conquistas era justamente o que possibilitava uma convivência mais harmoniosa entre os dois grupos

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