Luís Vaz de Camões (1524-1580)
Lista de 09 exercícios de Literatura com gabarito sobre o tema Luís Vaz de Camões (1524-1580) com questões de Vestibulares.
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01. (UNICAMP) Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)
Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano
- é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta em uma alma única e perfeita.
- é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria simples que deseja.
- é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa amada é a ausência de desejo.
- é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua condição de ideia.
02. (ESPCEX) Leia os versos a seguir.
As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana
Quanto à estrofe apresentada, é correto afirmar que
- a presença da sinestesia evoca a bravura decorrente do espírito expansionista dos navegadores lusitanos.
- pertence à terceira fase do Romantismo: o Condoreirismo, como ocorrem em Castro Alves no Navio Negreiro.
- se trata de um resgate ao Classicismo pelos poetas árcades, ao retomar a medida nova, versos decassílabos.
- se trata de uma epopeia camoniana, ao cantar os feitos heroicos dos portugueses durante o expansionismo marítimo.
- aborda a crise espiritual do Barroco: o paganismo decorrente do expansionismo marítimo; e a religiosidade decorrente de uma retomada ao teocentrismo medieval.
03. (ESPM) [...] o professor e escritor português Helder Macedo, que, no ensaio “Camões e a viagem iniciática”, irá contestar a teoria da castidade do poeta Camões, argumentando que o autor Luís de Camões, à frente do seu tempo, teria, na verdade, procurado e desenvolvido uma nova filosofia na qual os valores até então inconciliáveis do homem (o corpo e a alma) pudessem, na sua poesia, finalmente se combinar.
Ora, Camões estava, sim, inserido numa Europa quinhentista, que ainda apresentava como grandes ícones poéticos os renascentistas italianos Dante e Petrarca, que, como dissemos, eram defensores do amor não-carnal e em cujos versos a figura feminina era via de regra vista como símbolo de pureza. Entretanto, se estes dois poetas aprovisionam o seu fazer poético de um caráter platônico indubitável (e não o fazem apenas na arte, mas também na vida, haja vista as biográficas paixões inalcançáveis que estes nutriam pelas mulheres que se tornariam as suas respectivas musas poéticas: Beatriz e Laura), a mesma certeza não se pode ter em relação ao poeta português. Isto porque viver na Europa quinhentista não faz necessariamente de Luís de Camões um quinhentista genuíno, no sentido ideológico e não temporal da palavra, não insere obrigatoriamente Camões no pensamento do seu tempo, a coadunar, parcial ou totalmente, com a visão de mundo vigente. E serão estas duas possibilidades, estes inegociáveis estar e não-estar camonianos em sua época, que provocarão as dubiedades semânticas que podemos observar com frequência nas leituras críticas de sua poesia.
(Marcelo Pacheco Soares, Camões & Camões ou Pede o desejo, Camões, que vos leia, http://www.revistavoos.com.br/seer/index.php/voos/article/view/46/01_Vol2_VOOS2009_CL20)
Baseando-se estritamente no ponto de vista teorizado no texto acima (e não no sentido amplo da obra camoniana), Camões poderia ser vinculado a uma das definições abaixo, que caracterizam períodos da História da Literatura . Assinale-a:
- “Obediente a estritas normas de cortesia – o \'amor cortês\' –, rendia vassalagem absoluta à dama, prometia servi-la e respeitá- la fielmente, ser discreto embora ciumento, empalidecer na sua presença...”
- “visão de mundo centrada na ideia do valor essencial e supremo do Homem, em oposição às teorias que privilegiam a Natureza, a realidade física ou concreta.”
- “Entendido ora como liame entre a Renascença e o Barroco, ora como uma tendência autônoma e diferenciada...” “É marcado pela contradição e o conflito e assumiu na vasta área em que se manifestou variadas feições.”
- “A envolvente estesia verbal ...’distraía’ a consciência do pecado ou do erro, simbolizado na prática de uma vida não-cristã e não-católica.”
- “...pregavam, na esteira de Horácio, a ‘áurea mediocridade’, ou seja, a dourada mediania existencial, transcorrida sem sobressaltos, sem paixões ou desejos.”
04. (IFMT) TEXTO 2
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.
(Luís Vaz de Camões, in "Sonetos").
A respeito do poema, analise as afirmativas:
I. O soneto acima é representante típico das produções literárias da Escola Clássica, nome dado ao movimento artístico do Renascimento.
II. Serenidade, sobriedade e racionalismo são as características fundamentais no modelo estético do período. Na literatura e nas artes, em geral, isso é materializado na razão que deveria dominar a emoção.
III. O amor, no poema, é analisado racionalmente, dissecado pelo eu-lírico, e mais voltado para a concretização do que para a idealização. É o amor platônico.
Está correto o que se afirma em
- I e II, apenas.
- I, III, apenas.
- II e III, apenas.
- I, apenas.
- I, II e III.
05. (ESPM) Textos para responder à questão.
Texto I
Dizei, Senhora, da Beleza ideia:
Para fazerdes esse áureo crino1,
Onde fostes buscar esse ouro fino?
De que escondida mina ou de que veia?
Dos vossos olhos essa luz febeia2,
Esse respeito, de um império dino3?
Se o alcançastes com saber divino,
Se com encantamentos de Medeia?
De que escondidas conchas escolhestes
As perlas preciosas orientais
Que, falando, mostrais no doce riso?
Pois vos formastes tal como quisestes,
Vigiai-vos de vós, não vos vejais;
Fugi das fontes: lembre-vos Narciso.
(CAMÕES, Luís de. Rimas. Texto estabelecido, revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão. Coimbra: Atlântida Editora, 1973.)
Vocabulário:
1. cabelos
2. do sol
3. digno, merecedor
Texto II
Já sabemos que uma parte importante da poesia de Camões está centrada na representação da mulher amada e na reflexão sobre o Amor. O que neste soneto encontramos, nos termos concentrados que esta forma exige, é uma das componentes mais sofisticadas daquela representação: a mulher é vista não pelos olhos do desejo erótico, mas antes como um ideal de Beleza.
(REIS, Carlos. Rimas e Os Lusíadas. Porto: Porto Editora, 2015.)
Considerando o soneto de Luís Vaz de Camões (1525?/1580) e as observações referentes a ele, do ensaísta português Carlos Reis, pode-se considerar CORRETO o que se afirma em:
- A figura feminina é concebida como uma entidade inacessível, cujos atributos físicos (“áureo crino”, o brilho dos olhos, os dentes como pérolas) relacionam-se ao pensamento neoplatônico.
- Os questionamentos proferidos pelo eu lírico à “Senhora” evidenciam que ele convalesce por causa de um sentimento não correspondido; enquanto ela ignora e despreza seus insistentes convites amorosos.
- No decorrer de todo o texto, o eu lírico busca esclarecer se a dama a quem ele admira é uma mulher concebida pelo plano do sagrado (“Se o alcançastes com saber divino, ”) ou do profano (“Se com encantamentos de Medeia? ”).
- O verso “Vigiai-vos de vós, não vos vejais” apresenta um recurso sonoro (assonância) que, definitivamente, aproxima Camões do estilo petrarquista e contribui na elaboração do ideal de Beleza referido pelo ensaísta.
- O terceto final revela uma crítica irônica à vaidade feminina, pois, em contexto mitológico, a mulher pode ser levada à destruição por sua beleza, como aconteceu com Narciso, que teria se afogado na própria imagem refletida na água.
Leia o soneto de Luís de Camões para responder às questões de 06 a 08.
Qual tem a borboleta por costume,
que, enlevada1 na luz da acesa vela,
dando vai voltas mil, até que nela
se queima agora, agora se consome,
tal eu correndo vou ao vivo lume
desses olhos gentis, Aónia bela;
e abraso-me, por mais que com cautela
livrar-me a parte racional presume.
Conheço o muito a que se atreve a vista,
o quanto se levanta o pensamento,
o como vou morrendo claramente;
porém, não quer Amor que lhe resista,
nem a minha alma o quer; que em tal tormento,
qual em glória maior, está contente.
(Luís de Camões. Sonetos, 1942.)
1enlevada: atraída, fascinada.
06. (Santa Casa 2023) No soneto, o eu lírico
- compara-se a uma borboleta e os olhos de Aónia a uma vela acesa.
- compara Aónia a uma borboleta e os olhos dela a uma vela acesa.
- compara-se a um vivo lume e Aónia a uma borboleta.
- compara Aónia a uma borboleta e os olhos dela à luz de uma vela acesa.
- compara-se a um vivo lume e Aónia a uma vela acesa.
07. (Santa Casa 2023) No soneto, o eu lírico dirige-se, mediante vocativo,
- à vela.
- a Amor.
- à borboleta.
- a Aónia.
- à própria alma.
08. (Santa Casa 2023) No trecho “em tal tormento, / qual em glória maior, está contente.”, o eu lírico faz uso do seguinte recurso retórico:
- pleonasmo.
- eufemismo.
- paradoxo.
- sinestesia.
- personificação.
09. (PUC-RS) Luís Vaz de Camões (1524-1580) foi um poeta do Classicismo português, autor da epopeia Os Lusíadas (1572). O poema a seguir faz parte de sua produção lírica.
Ao desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim,
Anda o Mundo concertado.
Adaptado de: BERARDINELLI, Cleonice. Estudos Camonianos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, Cátedra Padre António Vieira, Instituto Camões, 2000. pp. 164-165.
Sobre o poema em questão, assinale a alternativa correta.
- Ao empregar a forma do soneto, o autor busca vincular-se a poetas fundamentais da tradição italiana, como Dante e Petrarca.
- Ao apresentar o mundo dividido entre os “bons” e os “maus”, o eu-lírico reflete a visão maniqueísta do período medieval e aponta a importância de se agir de acordo com as normas morais e religiosas.
- Ao tratar do tema do “desconcerto do mundo”, o eu-lírico registra a impotência do indivíduo diante de uma realidade vista como injusta e incoerente.
- Ao aproximar-se da reflexão filosófica, o poema abre mão de recursos usuais do discurso poético, como a metrificação regular e o uso de esquemas de rimas.